A HUMILDADE CABE EM QUALQUER LUGAR
Era uma vez um médium antigo da Casa, que sempre chegava em
cima da hora (e muitas vezes atrasado!) para qualquer trabalho
espiritual, sempre com mil e uma desculpas do quão foi difícil chegar
ao terreiro, de tudo que estava fazendo e interrompeu para ir ao
trabalho mediúnico.
Ao encerrar a Gira, sempre saía com pressa, não podia nunca ajudar
na limpeza, pois precisava atender a mãe que ficou sozinha, ou os
filhos que precisavam dele, ou a esposa/marido que não entendia sua
vida religiosa e reclamava sua ausência, ou um relatório profissional
que precisava ser terminado para o dia seguinte.
Esse médium fazia muita questão de deixar bem claro o quanto sua
vida era ocupada e cheia de afazeres e que abandonava tudo para vir
ao terreiro fazer sua caridade incorporado de seus Guias.
E quando um irmão se apiedava de sua vida tão sacrificada em prol da
Umbanda, ele respondia: "A Casa precisa de mim, tem poucos
médiuns confirmados! Além disso, meus Guias precisam trabalhar para
evoluir!"
E suas incorporações eram sofridas, difíceis e cansativas pois,
segundo ele, seus Guias exigiam demais de seu corpo físico e usavam
muito seu ectoplasma.
Muitas vezes, alegava dificuldades financeiras (que faziam parte da
sua encarnação tão cheia de problemas) e acabava por não contribuir
(ou apenas parcialmente) nas despesas do terreiro...
Esse personagem não é de ficção e existe na maioria dos Templos
Umbandistas. E por ser antigo na Casa, acaba cristalizando esse
comportamento e se viciando nesta conduta.
Conceitos que devem ficar bem claros para qualquer médium (antigo
ou novo):
1. Nenhum médium é insubstituível - nem mesmo o sacerdote! O
Templo não precisa do médium; o médium é quem precisa do Templo,
como um local físico e espiritual para praticar a caridade através da
incorporação!
2. A espiritualidade sabe muito bem quantos médiuns confirmados a
Casa tem e quantos terão condição de comparecer à Gira daquele dia.
Há todo um planejamento no Astral quanto aos Guias que darão
consulta, aos consulentes que virão, por qual Guia serão atendidos e
do tempo de duração geral do trabalho espiritual. Então não há UM
médium essencial ao trabalho; um corpo mediúnico saudável,
consciente e bem disposto é que é essencial!
3. O Guia não precisa do seu médium de incorporação para trabalhar!
Ele é um trabalhador de Deus e tem MUITO trabalho a fazer sem
precisar estar incorporado aqui em nossa dimensão material. Se o
terreiro faz uma Gira de Caboclo a cada 3 meses, o coitado do caboclo
trabalha dando consultas durante 2 ou 3 horas e se vê obrigado a ficar
de "licença obrigatória" até a próxima oportunidade 3 meses depois??
A incorporação é um milésimo do trabalho geral na vida de um Guia!
4. O Guia não precisa do seu médium de incorporação para evoluir! É
a presença (incorporada ou não) do Guia, dando conselhos e
orientações, que ajuda o médium a evoluir. Nós somos as crianças que
muito pouco ou nada sabemos - os Guias são os adultos, pais e
mestres, que com amor e paciência nos orientam, guiam e protegem.
E eles muito trabalham no Astral para conquistar sua evolução sem
precisar de nós!
5. As incorporações sofridas, difíceis e cansativas não acontecem por
culpa do Guia que exige demais do seu médium... são produto do ego
do médium que se posiciona como vítima de sua mediunidade e
precisa chamar a atenção de seu sacerdote, de seus irmãos de
corrente, de seus familiares e de si mesmo de quanto ele é um mártir
do trabalho mediúnico e da Umbanda. Porque incorporar é algo suave,
sublime e reenergizador - a maior preocupação do Guia, após terminar
qualquer trabalho mediúnico, é deixar seu médium melhor do que
estava antes de começar.
6. Não contribuir (ou fazê-lo parcialmente) nas despesas, no caso
deste médium, apenas reflete a personagem "médium vítima" que ele
criou para si mesmo. Essa atitude é o reflexo do não contribuir
espiritualmente para o Corpo Mediúnico, da não consciência da
importância do Solo Sagrado em sua evolução, da inversão das
prioridades em sua vida - porque é comum ver esse médium com
roupas novas, comprando livros, fazendo cursos, gastando em
gasolina, se alimentando na lanchonete do terreiro... então! A situação
financeira não está tão difícil assim, não é?
Não se pode acreditar que ser "mais velho" no terreiro ou na Umbanda
faz o médium ser imune à prepotência, ignorância, paralisia,
desequilíbrio e negatividade. Ao contrário, esse médium deve redobrar
sua auto vigilância, pois o tempo lhe conduz à famosa zona de
conforto e acomodação, onde todas as paralisias são prejudiciais
Repense seus conceitos, reveja suas visões, recicle seus
conhecimentos e procure domar seu ego que pode se transformar no
seu maior inimigo na jornada evolutiva desta encarnação!