QUANDO O CABOCLO PEDE AGÔ
O inabitual sempre traz espanto e quase sempre descrença! Por mais bem-
intencionada que seja a maioria dos Filhos de Fé que se nos agrupam mais
variados terreiros, raros deles podem crer que Caboclo deixe o terreiro, o
charuto, a vela, e troque a pemba de giz pela pemba de lápis ou caneta. De fato
não trocamos, apenas usamos também, quando temos oportunidade, o lápis, em
algum recinto do terreiro ou em qualquer local em que o "aparelho" (médium)
sentir-se bem à vontade — vibratoriamente falando.
Assim, sabemos que muitos de nossos "Filhos de Terreiro" não estão
habituados a observar um Caboclo de Umbanda fazer uso do lápis. De fato, não
nos é comum expressarmo-nos nesta modalidade mediúnica, que é a dimensão-
mediunidade, que também pode ser traduzida como psicografia dimensional e
sensibilidade psicoastral.
A grande maioria dos Filhos de Fé, bem como a grande massa de crentes, está
acostumada a ver Caboclos "montarem" em seus "cavalos" através da mecânica
de incorporação.
Não raras vezes, falamos de maneira que nem sempre quem nos ouve nos
entende, precisando da ajuda imprescindível do cambono. Muitas vezes usamos
este artifício visando nos tornar bem próximos do consulente, bem como permitir
que o cambono aprenda e observe as mazelas humanas, e saiba como encará-
las de frente, segundo nossas próprias atitudes perante cada consulente.
Outros, menos ligados aos fenômenos da Ciência do Espírito, não conseguem
entender como um Caboclo (Entidade Espiritual que usa a vestimenta fluídica de
um Ser Espiritual da Raça Vermelha) pode escrever através de seu "cavalo" ou
dizer coisas que só o homem civilizado conhece. Como pode um Caboclo
escrever? No tempo em que ele vivia na Terra era analfabeto, nem sabia que
tinha escrita, muito menos ciência, filosofia, etc. E, muitos Filhos ainda pensam
assim! Pura falta de informação sobre as leis da reencarnação e sobre a lei dos
ciclos e dos ritmos.
Caboclo acredita que realmente à primeira vista, isto pode suscitar dúvida e
descrença, tanto sobre o Caboclo como sobre o intermediário entre os dois
planos — o médium ou aparelho. A grande maioria tem em mente que o
Caboclo não fala português, é bugre da mata virgem; como, de repente, já vem
ele ditando normalmente o português, ou, o que é mais estranho, escrevendo?
Realmente muitos pensarão: Ou o aparelho é mistificador, ou essa Entidade que
diz ser um Caboclo não o é.
Pode até acontecer que algum aparelho seja mistificador e que algum Caboclo
não seja Caboclo, mas palavra de Caboclo que o Caboclo que aqui escreve é o
mesmo que baixa no terreiro, e que o aparelho é o mesmo que nos "recebe" nas
sessões semanais, tanto no "desenvolvimento" mediúnico como nas sessões de
caridade, onde atendemos grande número de consulentes, por meio da
mecânica de incorporação. Os mecanismos são diferentes, mas as finalidades
não, pois ambas visam direcionar os Filhos de Fé, dirimindo as suas dúvidas.
Imaginem, como simples exemplo, se de repente, em todas as "giras", o
Caboclo se apresentasse não na incorporação, mas completamente
materializado, isto é, se todos os Filhos de Fé, sem precisarem fazer uso da
mediunidade que lhes dilatasse os poderes de alcance visual, nos vissem em
corpo astral densificado?! Provavelmente, de início, ficaríamos com
pouquíssimos ou nenhum Filho de Fé no terreiro! Uns sairiam correndo
apavorados e tresloucados. Outros ficariam extáticos, em profunda hipnose, tal o
choque psíquico.
Outro mais, peto estresse, teria fortes descargas de adrenalina, podendo ter
crises de arritmias graves e até espasmos coronarianos, distúrbios que
poderiam levá-los ao desencarne.
Com isso, afirmamos que tudo que foge do habitual traz espanto, traz dúvidas.
Isso é naturalíssimo! Mas um dia teríamos que começar a nos manifestar sob
outras formas não habituais. E de há muito já começamos! Esta é mais uma
dessas formas. Mas, com o decorrer do tempo, tudo tornar-se-á comum.
Esperemos! Os tempos são chegados! Para muito breve, veremos que muitos
dos Filhos de Fé se acostumarão a ver seu próprio Caboclo também ditando um
livro, uma mensagem. Chegará o tempo em que as mensagens ditadas serão
tão habituais como a importantíssima mecânica de incorporação em nosso ritual.
Filhos de Fé! Entendam que o Caboclo que ora escreve é um desses mesmos
Caboclos que "baixam no terreiro" e atendem aos Filhos de Fé, nas tão
costumeiras consultas, conselhos, passes, etc. Este Caboclo é o mesmo 7
Espadas de Ogum, que "baixa" nas sessões de nossa humilde tenda, e que
agora, nestas pequenas lições, vez por outra usará termos tão comuns em
nossas "giras de terreiro". Os Filhos de Fé de nossa humilde choupana de
trabalhos já estão acostumados com as variações da mediunidade e entendem
que o ser espiritual pode usar a vestimenta astral que melhor lhe aprouver, tudo
visando ser melhor compreendido quando se dirigir aos filhos da Terra, ainda
presos a certos conceitos arraigados sobre Caboclos, Pretos Velhos, etc.
Devemos entender também que a mediunidade é fruto do perfeito
entrelaçamento vibratório entre o aparelho (médium) e a entidade atuante,
através de sutis laços fluídico-magnéticos, e principalmente através da sintonia e
dos ascendentes morais-espirituais.
Quando queremos ditar, escrever ou levar o aparelho a certos transes
mediúnicos (dimensão-mediunidade) emitimos certa ordem de fluidos que se
casam com os do cavalo, tanto em seu mental como em seu emocional (corpo
astral), fazendo com que ele sinta nossa presença, em forma de "um quê" que o
emociona até as fibras mais íntimas de seu ser, e "um quê" que o deixa
levemente ansioso, devido a vibrarmos com alguma intensidade em certas
regiões de seu sistema nervoso central e nos centros superiores da mente,
principalmente nos lobos frontais e temporais e em todo o complexo celular
neuronal moto-sensitivo. Por processos astrais técnicos que regem o
mecanismo mediúnico, e mesmo etérico-físicos, que deixaremos de explicar por
fugir da singeleza destas lições, o aparelho conscientemente sente-nos a
presença e, como servidor leal, aquiesce de boa vontade à tarefa que irá
desempenhar em comunhão conosco. Não raras vezes, nos vê através da
clarividência, e a maior parte das vezes pela sensibilidade psicoastral. Pronto!
Entidade e aparelho agora formam um complexo em perfeita simbiose espiritual,
todo favorável aos trabalhos que irão ser desenvolvidos. Ativamos certas zonas
em seu corpo mental e em todo o sistema nervoso periférico, para que não haja
excessos de desgaste energético em sua economia orgânica. Desde a epífise, a
glândula da vida espiritual, passando por complicada rede hipotalâmica,
chegamos a promover esta ou aquela ativação ou inibição hormonal.
Tudo é criterioso; não podemos lesar nem sobrecarregar tão abnegado aparelho
que montamos e dirigimos. Em rápidas palavras, apresentamos resumidamente
os cuidados e as técnicas para a execução deste relato. Foi dessa forma que
surgiu este pequeno volume que agora está em suas mãos. Nele, procuramos
um enfoque simplificado dos tópicos mais complicados, em que muitos Filhos de
Fé desanimam em progredir em seus estudos e conclusões. Esperamos
alcançar o objetivo.
Já é alta madrugada, Caboclo falou demais... O dia já vai clarear e o galo vai
cantar, anunciando um novo dia de bênçãos renovadas que vai chegar.
Povo d'Aruanda, lá no Humaitá (plano do astral em que vibram as entidades de
Ogum), já está me chamando...
Antes de Caboclo "subir", ir a "oló", quer deixar fixado no papel as vibrações de
amizade e simpatia por todos os Filhos de Fé. Que Oxalá os abençoe sempre.
— Filho de Fé — Caboclo fala sussurrando para não te assustar. — Acorda, é
novo dia. Os clarins estão tocando e a todos chamando. Abre os olhos. Abre os
ouvidos. E muito principalmente o coração. Caminha trabalhando e aprendendo
sempre. Um novo dia está surgindo. Vamos, desperta! Testemunha com
trabalho o raiar da Nova Era...Filho de Fé, saravá... Estarei sempre contigo. Fica
sempre comigo. Que TUPÃ nos abençoe a tarefa que temos de cumprir.
Vamos às lições de Caboclo, que espero serão bem assimiladas por todos,
umbandistas ou não. Assim, Umbanda — Caboclo Pede Agô...